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Exemplo é tudo...

…e o seu filho tem muito a aprender com ele. Novos estudos mostram que a forma como os pais convivem entre si impacta o presente e o futuro das crianças. A seguir, especialistas contam como o seu relacionamento pode transmitir uma mensagem positiva e ensinar lições preciosas sobre respeito, cuidado e parceria.

Como criar filhos felizes? O que, de fato, precisamos fazer para que as crianças se sintam bem? São perguntas frequentes entre mães e pais. Foram questionamentos como esses, aliás, que levaram a psicóloga portuguesa Paula Cristina Serrano a começar seu trabalho de pesquisa na Universidade do Algarve (Portugal). Ela queria entender o que influencia, afinal, o bem-estar dos pequenos. Para isso, entrevistou 169 famílias com filhos de 2 a 13 anos. Perguntou sobre acesso à educação, faixa de renda, tipo de moradia… Spoiler: a resposta não estava em (quase) nenhum desses tópicos.

A pesquisa mostrou que, na prática, pouco importa salário, formação acadêmica ou estado civil. Para criar filhos felizes é preciso que, antes de tudo, os pais tenham um relacionamento feliz. “As variáveis demográficas não explicam por si só, de forma significativa, o bem-estar infantil. A satisfação conjugal é a única variável que pode fazer isso”, escreveu.

Em outras palavras, a felicidade do seu filho começa por você – e pela forma como os parceiros se relacionam. Pode parecer exagero, mas a pediatra e educadora parental Loretta Campos (GO) garante que existem boas explicações para isso. “Independentemente da estrutura familiar, o que traz a sensação de equilíbrio para a criança é o estreitamento da conexão. Ela se sente amada e conectada quando os pais demonstram interesse nela e entre si.”

Nesse ponto, os especialistas são categóricos: um relacionamento saudável ensina muita coisa aos pequenos. que eles observam dentro de casa serve como base para as outras relações que terão ao longo da vida. “A criança presta atenção em tudo desde bem pequena, e começa um processo de imitação. Quando os pais têm uma relação genuína, o filho leva esses estímulos por muito mais tempo”, diz a psicóloga Rita Calegari (SP).

Se surgiu a pergunta “será que estou no caminho certo?”, basta olhar para si. Se você e seu companheiro se respeitam, são carinhosos um com o outro e resolvem as diferenças na base da conversa, a resposta provavelmente é sim. Caso contrário, calma, ainda dá tempo de resolver. O primeiro passo é entender que um relacionamento saudável é um dos melhores exemplos positivos que pode deixar para o seu filho. O segundo… bem, esse você descobre colocando em prática as dicas que vêm a seguir.

Amor e parceria

Não tem jeito: quando um filho chega a relação com o parceiro se transforma. Mas isso não precisa (e nem deve) ser justificativa para deixar de lado o companheirismo que vocês tinham até então. Com uma criança em casa, mais do que nunca, é importante dividir as responsabilidades, as alegrias e as angústias. Pequenos gestos, como bater papo na hora das refeições, ver um juntos filme ou cozinhar, valem ouro. E todo mundo ganha com eles. Para as crianças, é fundamental ver que os pais se dão bem e que rem compartilhar experiências entre si.

E essa mensagem que o engenheiro de software Luiz Durăes, 40, e a administradora Thais Costa, 35, buscam transmitir ao filho Mateo, 2. “Ensinamos as crianças com pequenas atitudes. Aqui em casa, nosso filho vê que estamos o tempo todo juntos e dividimos as tarefas domésticas. Tenho certeza de que isso vai ser importante quando ele morar sozinho, tiver um relacionamento”, diz Thais. Mas eles também admitem: nem sempre essa é uma missão fácil. “A maior lição que tentamos deixar é a da nossa união. Por mais que a gente discorde em algumas coisas, nunca vou invalidar um posicionamento da mãe na frente dele. Se for preciso, conversamos depois, num outro momento”, conta Luiz. Ponto para eles!

Aceitação e amor próprio

Você provavelmente já ouviu aquela analogia sobre as máscaras de oxigénio no avião. Antes de decolar, os comissários avisam que, em caso de emergência, os adultos sempre precisam garantir a própria integridade antes de começar a proteger as crianças. Essa mesma lógica vale para os relacionamentos em família. Antes de ensinar sobre aceitação e autoestima, os pais devem trabalhar para, juntos, construírem esse ambiente de acolhimento. “A segurança emocional da criança vem daquilo que os pais transmitem. Se o relacionamento carrega violências e críticas, isso pode gerar inseguranças e baixa autoestima”, diz Loretta. Foi exatamente isso que um estudo da Universidade de Cambridge (Reino Unido) mostrou. Mais de 430 famílias foram acompanhadas do último trimestre da gestação até o 24° mês do bebê. Os pesquisadores observaram que a maneira como os pais se relacionavam afetava diretamente o comportamento das crianças. Quanto mais atritos, mais inseguros eram os filhos.

A boa notícia é que também existe um lado positivo nessa história. Se relações ruins influenciam negativamente as crianças, o oposto também é válido. E, de novo, voltamos à importância do exemplo. Quando veem que os adultos lidam bem com as diferenças e aceitam as individualidades um do outro, os pequenos ficam mais seguros para se expressar e ser quem eles são, sem medo de julgamentos. “Os filhos nascem, mas a gente continua sendo um casal, tendo sonhos e vontades próprias. Ao perceber que os pais se respeitam e também pensam em si, a criança vai entender na prática o que é aceitação e amor próprio”, diz Erica Mantelli.

Carinho e gratidão

Acredite: um beijo de despedida ou um abraço depois de um dia difícil fazem a diferença. Vários estudos já comprovaram que o toque e o afeto são fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Mas não é só isso. Ter como referência pais que são carinhosos um com o outro também é muito positivo – tanto para os pequenos quanto para os adultos. “O sentido de casal não pode sumir, ele é a estrutura da família. Nem sempre é simples, mas é preciso achar estratégias para manter esse carinho e desfrutar da própria companhia”, diz a sexóloga Carolina Ambrogini, colunista da CRESCER.

Na casa da servidora pública Josie Pretto, 42, e do médico anestesio Giorgio, 40, essa dica é seguida à risca. Todos os dias, depois de jantarem e colocarem o filho Gabriel, 5, para dormir, eles tiram um tempo para ficar a sós, conversar, tomar um vinho… “A gente começou a perceber que isso contribui também para a harmonia da casa e esse clima mais leve contagia o Gabriel”, diz Josie. Ela lembra de um episódio em que o filho ficou na porta da sala com uma flor, esperando a avó voltar de viagem. “Quando contei a cena para a nossa funcionária, ela falou ‘É óbvio que ele agiria assim, ele vê o jeito carinhoso como você e o Giorgio se tratam. Ouvir isso foi muito especial”, conta.

E aqui vale um lembrete: ser carinhoso não tem a ver só com demonstrações físicas de afeto. Mesmo casais que já não vivem mais juntos podem, sim, mostrar para as crianças que a relação de proximidade, preocupação e respeito permanece. Perguntar se está tudo bem, agradecer por compartilhar as tarefas com as crianças, dizer “por favor” e “obrigado” já é um ótimo começo.

Diálogo e solução de conflitos

Para a psicóloga Rita Calegari, existe uma confusão sobre o que entendemos por relacionamento saudável. No fim das contas, tentar manter a fachada de “casal perfeito mais atrapalha do que ajuda. A lógica de que “meu filho não pode saber que estamos passando por uma fase difícil” precisa ser deixada para trás.

Quando as coisas não vão bem, ser aberto e franco – usando o bom senso e respeitando o nível de discernimento das crianças, é claro – faz com que elas se sintam mais seguras e entendam que nenhuma situação é difícil a ponto de não ser resolvida. “A gente tem uma ideia errada de que só as relações perfeitas ensinam e trazem coisas positivas. Às vezes, o medo e a fragilidade ensinam muito mais”, diz.

É na hora da dificuldade, aliás, que os pequenos começam a aprender que os fracassos e conflitos fazem parte do processo (e que não há nada de errado nisso). “Os pais precisam resolver suas diferenças de forma equilibrada e respeitosa, sempre mostrando que estão trabalhando para melhorar. Esse é mais um jeito de ensinar sobre resiliência e adaptação”, explica Loretta Campos. Um bom exercício para colocar em prática, não?

Para colocar em prática

A PSICÓLOGA RITA CALEGARI DÁ DICAS DE ATITUDES CORRIQUEIRAS QUE PODEM MUDAR (PARA MELHORI) O RELACIONAMENTO DO CASAL E DA FAMILIA:

SIM

Conversar olhando nos olhos.
Dar beijos de bom-dia e de boa-noite.
Avisar sempre que chegar ou sair de casa.
Agradecer quando receber ajuda.

NÃO

Gritar ou alterar o tom de voz durante as discussões.
Usar palavras de baixo calão.
Mexer no celular durante as refeições em família.
Criticar o parceiro na frente das crianças.

Matéria original da Revista Crescer.

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