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Sexualidade

Como falar sobre com seu filho.

Lidar com as curiosidades e os comportamentos das crianças em cada etapa do desenvolvimento – sem recorrer à cegonha nem estimular uma sexualidade precoce não precisa ser um bicho de sete cabeças. Na verdade, é um processo mais natural do que parece. Não sabe por onde começar ? 

Ao longo das gerações, o método universal mais adotado para lidar com as questões da sexualidade na infância pode ser resumido em três passos:

  • Fingir que absolutamente nada está acontecendo
  • Esbravejar algo como “ tira a mão dái ! “
  • Responder ás curiosidades embaraçosas com “ Você não tem idade para essas coisas “

Tudo bem admitir que as vezes é mais fácil  arrancar um dente do que falar sobre o assunto com as crianças. Assim como outros pais, talvez você só esteja esperando o “momento certo” e acabe concluindo que falta muito para o aniversário de 18 anos do seu filho.

Até o dia em que você flaga sua pequena de 3 anos dizendo para o priminho:

“ Quer ver minha pipita ? É diferente da sua!. Ou se vê interrogado pelo seu menino em fase pré-escolar sobre como exatamente a sementinha do papai foi parar na barriga a mamãe… e se convence de que não será possível adiar tanto esse tipo de conversa. Mas quando e por onde começar? A educação sexual não estimularia um desenvolvimento precoce?

Vamos lá: boa parte do tabu está ligado ao que as pessoas entendem quando ouvem “sexualidade”. Se o que vem à cabeça é “o ato em si “ e vivencias eróticas do mundo adulto, é compreensível que achem inapropriado ou mesmo inaceitável abordar o tema na infância. Mas o termo diz respeito à identidade, auto estima, afeto, relacionamentos … Portanto, nascemos e morrermos sexuais, mesmo que nunca pratiquemos sexo na vida . “ a sexualidade não depende da puberdade para florescer “, afirma a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo, presidente do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ela evolui naturalmente em todas as crianças desde o útero, a despeito de lhes explicarmos ou não o que está acontecendo.

Nos primeiros anos de vida, principalmente, as crianças aprendem por meio da observação. Ou seja, ensinamos mesmo quando permanecemos em silêncio. Como explica o psicólogo e professor da Universidade Harvard John T. Chirban no livro recém – lançado How to Talk with Your Kids about Sex ( “ Como falar sobre sexo com seus filhos “, em tradução livre, Editora Thomas Nel0osn), ainda que não percebam , os adultos enviam mensagens sobre seus medos e crenças a respeito da sexualidade o tempo todo. Por exemplo, pela maneira como Lidam com a própria nudez ou evitam a palavra vagina. Os pais precisam entender o processo de desenvolvimento sexual de seus filhos para guia-los, afirmou o professor em entrevista.

Na prática, significa estar atento as necessidades  dificuldades deles, criar um vínculo capaz de oferecer suporte honesto e respostas sólidas. “ Isso empodera as crianças, faz com que elas saibam o que querem ou não querem e comuniquem de forma eficiente. Incerteza gera vulnerabilidade “

O preço da falta de Informação

Quando os pais se furtam dessa responsabilidade, permite que outras fontes (talvez menos idôneas )se tornem instrutores de seus filhos. Despreparados, eles correm muito mais riscos – violência sexual, gravidez não planejada e e infecções sexualmente transmissíveis são apenas alguns. Melhor garantir em casa que tenham informação e autoconfiança suficientes para tomar decisões que irão mantê-los saudáveis, seguros e felizes, não? Precisamos superar o mito de que a educação sexual pode erotizar ou incentivar a iniciação sexual precoce” afirma a pedagoga Caroline Arcari, autora do premiado livro Pipo e Fifi: Prevenção de Violência Sexual na Infância. Editora Caqui. Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que programas de qualidade ajudam os jovens a perdr a virgindade mais tarde, reduzir o numero  de parceiros e usar mais camisinha. A ONU, por exemplo, disponibiliza à Unesco e outras instituições uma espécie de cartilha com orientações para a implementação de educação sexual entre 5 a 18 anos.

No Brasil, quase 30% dos alunos de 9º ano do ensino fundamental ( cuja idade média é 14 anos ) já tiveram relação sexuais, segundo uma pesquisa do IBGE divulgada em 2015. Muito antes, parte considerável das crianças e adolescentes já teve experiências como beijo de língua e toque sem roupa;” O conceito que a maioria dos pais tem sobre falar de sexo com os filhos envolve apenas prevenção contra a gravidez  e doenças, afirma a educadora sexual Maria Helena Vilela, cofundadora do Instituto Kaplan – Centro  de Estudos da Sexualidade Humana. Não adianta tocar no assunto uma única vez e já na adolescência. “Uma pesquisa da Universidade Brigham Young (EUA) que avaliou o nível de comunicação sexual entre mais de 500 filhos e pais ao longo de dez anos corrobora a opinião da especialista : uma conversa vaga e genérica sobre sexo não é eficaz. Os jovens com atividade sexual mais segura tiveram comunicação continua sobre sexualidade em casa.

Outro dado curioso foi apresentado no ano passado em um evento da Pediatric Academic Societies: enquanto 90% dos pais de jovens ente 13-17 anos afirmam que falam de sexo com seus filhos, apenas 39% dos adolescentes reportaram o mesmo . “ Às vezes os pais falam o mínimo e têm a percepção de que cumpriram sua missão “ explica o educador sexual Marcos Ribeiro, autor de livros infantis como Sexo Não é Bicho-Papão! Editora Zit. “ As conversas devem acontecer no dia a dia e desde muito cedo. “ A pedagoga Caroline Arcari compara com a educação no trânsito: “Quando as crianças ainda andam no colo  de mãos dadas com os pais, ensinamos que é preciso olhar o semáforo e atravessar na faixa porque queremos protegê-las. Então, por que não orientamos sobre sexualidade, dosando a linguagem e o conteúdo de acordo com a faz do seu desenvolvimento?”.

DESCOBERTAS NATURAIS

Para muitos especialistas, os pais podem começar a educação sexual antes mesmo que os filhos aprendam a falar. Isso significa, por exemplo, incorporar os nomes corretos dos órgãos genitais (pênis e testículos; vulva e vagina ) em contextos cotidianos, como na hora o banho. Tudo bem recorrer a apelidos fofos como “ pepeca “ ou “pipi”, mas é importante que as crianças saibam como se chamam de verdade. Talvez soe estranho para você, mas tente ser espontâneo com se estivesse dizendo “joelho”. Lembre-se que pudor começa nas palavras. Se você não consegue nem referir literalmente a essas partes do corpo, como espera que seu filho se sinta à vontade com elas ?

Com a retirada das fraldas, as crianças passam a ter mais acesso aos genitais, portanto é natural que explorem o novo território da própria anatomia e descubram sensações gostosas.

Com a retirada das fraldas, as crianças passam a ter mais acesso aos genitais, portanto é natural que explorem o novo território da própria anatomia e descubram sensações gostosas.

“É um prazer infantil”, explica a psiquiatra Carmita Abdo, fundadora do Programa de Estudos em Sexualidade (USP).” Elas não têm a capacidade de erotização do adulto”,afirma. Apenas constatam algo como “olha, é diferente quando toco nesta parte do meu corpo!”. E, por não haver malícia nem compreensão das regras sociais, é comum que façam isso num almoço de domingo com a família inteira na sala.

Foi mais o menos que aconteceu na casa de uma operadora de telemarketing, ela flagrou o filho João Lucas, 3 anos mexendo no pênis, enquanto assistia a um desenho. ”Perguntei se ele estava com vontade de fazer xixi, e ele respondeu que achava que sim, porque o “birilo” (apelido que damos em casa ),estava ficando duro”, conta a mãe. Ela lidou normalmente com a situação e o levou ao banheiro.

Episódios de masturbação como esses são típicos da idade, e considerados quase aleatórios e inconscientes. A partir dos 3 anos, você já pode falar sobre privacidade. Jamais castigar o filho ou reagir de forma que ele se envergonhe da atitude.  Aproveite para a introduzir a noção de consentimento, explicando que os genitais são especiais e ninguém deve tocá-los – a não ser os pais, avos ou outros cuidadores durante o banho ou limpeza. E que, caso aconteça, ele deve contar a você não vai ficar bravo. Nessa fase, a criança também começa a reconhecer o gênero ao qual pertence e a reparar nas diferenças anatômicas entre meninos e meninas. Correm peladas, arrancam as roupas das bonecas, espiam os coros dos pais com mais atenção e se envolvem em dinâmicas tipo “ mostra-o-seu-que-eu-mortro-o-meu”. Por mais assustador que seja flagrar os chamados “jogos sexuais infantis”, conhecidos como “ troca-troca”ou “brincadeira de médico”, recorrentes entre os 7 e os 10 anos, interprete o comportamento dob a ótica da criança. “ Essa exploração deve ser encarada  com naturalidade , não há nada de inadequado”, afirma a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo. “ A maldade e o erotismo estão no olhar do adulto.” Da mesma forma, cuidado com a reprodução dos estereótipos de gênero. É importante que as crianças saibam, por exemplo, que meninas pode jogar bola e meninos, brincar de boneca.

Em geral, aos 3 anos, elas já especulam de onde vêm os bebês, mas suas ideias costumam ser tão embrionárias quanto “ eles vêm do hospital”. Eventuais perguntas sobre o amor e sexo não merecem palestras, mas respostas simples, que não antecipem informações desnecessárias ou além do que a criança é capaz de captar. Entre 4 e 5 anos, o interesse pela reprodução aumenta e os pequenos procuram saber como uma mulher engravida e por onde o bebê sai. Quando engravidou da filha Manuela , 1 ano, a fotógrafa precisou explicar para o primogênito, Lorenzo,5anos, que o papai havia colocado uma sementinha em sua barriga. O problema foi que o menino não se contentou e quis saber “como”. Fugi da resposta, porque fui pega de surpresa e não sei como falar do assunto sem que ele perca a inocência “. A dica é fornecer detalhes aos poucos e evitar metáforas demais.

Entre 6 e 8 anos, à medida que são alfabetizados, as duvidas se multiplicam. Você pode buscar ajuda em um livro infantil com ilustrações sobre a mecânica reprodutiva ( o-que-vai-aonde-de-que-forma) e as mudanças corporais que enfrentamos com a puberdade, como  aparecimento de pelos e espinhas. Assim a criança vai encarar com mais naturalidade aspectos do próprio desenvolvimento no futuro (mais próximo do que você gostaria de admitir) –incluindo menstruação e ejaculação, lá pelos 8 ou 9 anos. Nessa idade, provavelmente seu filho está online com ou sem sua supervisão. É importante discutir regras sobre conversar com estranhos nas redes sociais e compartilhar fotos. Para evitar que ele entre em contato com conteúdo pornográfico, talvez valha a pena instalar filtros nos aparelhos digitais. Segundo uma pesquisa da GuardChild realizada em 2018, 70% das crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos afirma ter encontrado pornografia acidentalmente enquanto navegavam na internet por outros motivos. Essas imagens podem criar uma noção incrivelmente distorcida de consentimento, prazer, saúde e segurança.

Educação SEXUAL na Escola

Os capítulos sobre camisinha e métodos contraceptivos devem surgir mais para a frente, por volta dos 11 anos. È mais ou menos nessa fase que a educação sexual surge nas salas de aula. No Brasil, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, ela deve ser discutida  a partir do 8ºano do ensino fundamental II, de forma transversal – ou seja, dentro de todas as disciplinas . Mas não há diretrizes claras e a obrigatoriedade e um currículo elaborado por especialistas. Em geral, a tarefa fica a cargo dos professores de biologia, que acabam tratando apenas do ponto de vista reprodutivo em aulas pontuais. As escolas particulares têm autonomia para tratar a questão, e poderiam ter uma disciplina especifica. No entanto, a maioria também costuma abordar o tema dentro da matéria de Biologia. Durante as ultimas eleições presidenciais, fake News e movimentos conservadores popularizam o termo “ideologia de gênero” para se posicionar contra a educação sexual nas escolas – que tem o apoio de  54 % dos brasileiros, de acordo com uma pesquisa da DataFolha realizada em dezembro passado. Argumentam, por exemplo, que os professores estariam “doutrinando” as crianças, que “menino pode ser menina”.

Para muitos profissionais da área, não há evidencias de que isso esteja acontecendo, muito menos de forma generalizada. Se as escolas mal abordam os aspecto biológicos e reprodutivos da sexualidade entre os adolescentes, estariam discutindo identidade de gênero e orientação sexual com as crianças? E, ainda assim, explicar a existência desses conceitos não torna alguém transexual ou gay – questão de identidade e não de escolha – , mas colabora com o combate à discriminação. De qualquer forma, é preciso melhorar a formação dos professores e o acesso a recursos didáticos de qualidade. Embora caiba à família o papel de educar para a sexualidade; é também no contexto doméstico que acontece quase 70% da violência sexual contra crianças no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Em 37% dos casos, os agressores convivem com as vitimas – pais e padrastos são os mais denunciados.

Toda criança te direito à informação de qualidade e proteção. “Os pais tem mais condições de avaliar o amadurecimento da criança para dar uma educação mais personalizada”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo. O problema é quem nem todos estão dispostos ou preparados para a tarefa. Quanto antes você abrir esse canal de diálogo sobre sexualidade com seus filhos, mais fácil será lá na frente. Preliminares são fundamentais. Tentar explicar para um pré-adolescentes sobre sexo sem nunca ter tocado no assunto é como ensinar álgebra sem que ele saiba letras e números. Você não saberá por onde começar . E ele terá informações demais para assimilar de uma vez.

Matéria original da Revista Crescer.

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